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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

PAULO GABRIEL
( Brasil – Mato Grosso )

 

"Eu quero ser apenas
um cantor popular de histórias simples
construtor de fantasias
sonhador de um mundo novo
pedreiro de utopias
."


Já andei nesta terra por uma porção de lugares.
Do Rio de Janeiro eu guardo a alegria de viver,
exposta na luz, na pele, na água.

Foi em Minas, porém, que eu aprendi a
interpretar o silêncio das coisas, o olhar
emocionado e o coração dos homens. Ainda
tenho saudade do eterno que em Minas se
escondeu.

No Araguaia a vida é luta, terra, sufoco, facão,
tiro, teimosia. E a história começando. Cabe-nos
o papel de construí-la conscientemente e
escrevê-la para memória dos que virão.

Minha casa fica em São Félix do Araguaia, MT.
 

 

POETAS DO ARAGUAIA. Prefácio de Carlos Rodrigues Brandão.  Rio de Janeiro: CEDI,  1983.  132 p.  ilus              Ex. bibl. Antonio Miranda

 

https://br.images.search.yahoo.com/search/images;

 

ENCANTOS DO RIO

É preciso navegar despido
pela floresta que ainda existe
para descobrir o que foi a terra no princípio.

E adentrar-se, depois, emocionado,
pelos espaços de luz que o rio oferece
onde a mata e a água se equilibram
governadas sabiamente pelos pássaros.

Pois aqui a terra profanada
e é por isso que se ignora o medo feio
da morte que o homem gera.

Na praia a "tracajá" desova
contemplada pela garça;
descansa o jacaré na areia
sério
que nem general de farda
Na mata o jabuti espia;
marrecos e tucanos bebem o vento da manhã
enquanto um bando de borboletas amarelas anuncia
que o mundo é frágil, feito dança.

À beira do rio,
as raízes mostram a direção da vida buscando a água.

Evidentemente a bondade passou pelo mundo
antes de ser pervertida a consciência.

Hoje desejaria não encontrar-me com os homens,
ficar no rio indefinidamente
para avaliar sem mágoa
a verdadeira dimensão da terra.

 

 

HOMENAGEM AOS CACHORRO

É certo que em São Félix do Araguaia
pode-se ouvir nitidamente
o latido misterioso dos cachorros
nas noites de luar,
sertanejas, estreladas.

É preciso saber que no sertão
os cachorros formam sindicato independente
— nem atrelado, nem pelego —
e têm entrada franca a qualquer hora
em qualquer parte:
igreja
açougue
delegacia
ou hospital.

E ninguém
a não ser um estranho
ousará interromper a sua marcha
quando resolvem desfilar pele rua principal
tomando posse da cidade.

Porque uma coisa é verdadeira:
todo o povo sabe que em São Felix
quem manda não é o Prefeito
são, é claro,
os cachorros.

Sem eles a vida fica morta e sem ritmo
como orquestra onde falha o diretor.

E, quando em assembleia
decidem todos paquerarem juntos
qualquer cadela ingênua... nessa noite
na cidade ninguém dorme.

Há cachorros de tudo quanto é cor, raça e tamanho
sendo a fome o fator mais eficaz
— sociedade sem classes em pleno século XX.

Tem, por exemplo,
com três patas apenas... coitado!
nunca olha a rua de frente, caminha em diagonal;
a maioria não tem rabo,
humilhação maior é impossível
pois um cachorro sem rabo perdeu a dignidade;
outros são aleijados, caolhos,
quase todos maltratados por doenças invisíveis.

São eles que recebem o hóspede que chega,
eles são os que acompanham ao cemitério quem morreu,
são eles que transmitem de porta em porta as notícias
e cheiram no ar a chuva repentina.

Não têm dono, são de todos,
propriedade coletiva da cidade,
e é por isso que entram
saem
comem
e dormem
onde bem entendem.

Sem despertar as suspeitas do Governo
os cachorros
estão infiltrando o comunismo no sertão.



TERRA DE HOMENS VALENTES

Eu venho de uma terra
onde o sol abrasa a carne
e o latifúndio mata a vida.

Terra de homens valentes, retirantes,
sentinelas do dia e da noite
acostumados a enfrentar o mato,
a onça, a cobra e o opressor.

Capazes de definir a história num lamento,
num gesto de mão cortando o ar,
num silêncio incontrolável, prolongado.

Aprenderam de coar que aqui todos exploram,
sabem que a vida é um fato relativo,
definitiva é só a terra.

Homens com facão na mão pra desmatar,
pra matar basta o olhar;
povo sem terra fixa
sem mulher fixa para amar
que vai de um lugar a outro
apenas por caminhar.

Homens que amam se o amor
não custa caro demais,
gente que usa revólver
para garantir aqui a paz.

Povo de vida curta
com muitos filhos atrás,
homens que morrem a pé
na estrada que leva ao mar.

Eu venho de uma terra grávida de esquecimento,
terra que pode explodir no momento incerto.

 

"Brasil das águas" — Rio Araguaia, em Mato Grosso:

http://brasildasaguas.com.br/wp-content/uploads/sites/4/2013/04/img_9-9-600-400-1001.jpg

 

DA FORÇA QUE NASCE DA MATA,
DO RIO...

Do Araguaia eu bebo
a água da liberdade
e são seus braços imensos
as veias que sangram forte
de todos os corpos mortos
na luta desse sertão.

À beira do rio
a mata verde anuncia
que o coração deve armar-se
de esperança inquebrantável
até a noite findar.

Na garganta o grito firme,
no olhar o instrumento certo:
lápis, facão, fuzil, martelo, terço, enxada
para modelar a imagem
do mundo novo a chegar.

Do Araguaia em bobo
na luz do amanhecer
a vontade de gritar.

 


O ABSOLUTO DO INSTANTE

Como passou depressa a vida!...
O difícil é suportar a lentidão desta tarde
que não passa.

 

Fernando Caldas: Antigas lavadeiras

http://4.bp.blogspot.com/


LAVADEIRAS DO ARAGUAIA

Vou contar a vida
das mulheres do Araguaia,
amantes do rio
escravas do rio
senhoras da água,
lavadeiras!

Elas têm a cor morena
tecida de sol, poeira, mato, vento e água,
a pele faiscando sempre
como o metal na luz;
possuem braços firmes como raízes,
largos, capazes de amansar a vida,
e os pés sempre descalços,
feito radar sobre a terra em cio
— lodo de outubro a março
poeira de março a outubro.

Têm olhos escuros
acostumados a ver a fome, os vermes
na barriga dos meninos,
cansados de tanto caminhar,
olhos de amêndoa e vinho
acesos para enxergar os mistérios da noite,
competindo com o luar,

"Passei minhas vistas pelo mundo,"
disse Albertina, "agora quero paz, quero sossego,
e fecha os olhos;
"Já vi briga de faca,
revólver brilhar e o sangue fervendo sobre a areia,
já vi com estes olhos a traição
e senti medo na bajina", proclama, altiva, Neuza.

Mulheres de gestos rudes
e sensibilidade infinita
capazes de reorientara a vida do mundo em qualquer
homem aflito
com um sorriso lento, sagaz, ingênuo, obsceno.

Cedo acordam,
cedo o rio as espera;
vão chegando, majestosas, rainhas numa terra decadente;
na cabeça o balde cheio,
requebrando as cadeiras,
os olhos fixos no horizonte de água.

O Araguaia mando, se oferece meigo, cúmplice, amante
e elas o abraçam, o invadem e nele se abandonam
antes de começar a luta.

Lavadeira! Escravas num tempo de negra-liberdade,
libertai a vida como o rio é livre,
lavai a dignidade na água pura.

Fazei que vosso grito invada a terra
para que todos saibam do suor salgado
retidos nas camisas dos maridos — peões de Fazenda —


da vida negada nos lençóis dos opressores,
da revolta atalhada nas calças surradas,
nos sonhos frustrados.

Levantai-vos, lavadeiras do Araguaia,
erguei o braço
acostumado a subir no espaço batendo a roupa na tábua
lisa.         

 

 

*

      

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Página publicada em outubro de 2022

 


 

 

 
 
 
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